quinta-feira, novembro 18, 2004
Pano de Boca - apesar de tudo passando o recado!
Fiquei emocionada. Recebi uma porção de carinho essa semana. São pessoas assim como vocês que fazem a vida ter um colorido especial. Mais um pouquinho e ficava metida. Pensei em dar um tempinho para mim, para cuidar das minhas coisas mas, como? Como abandonar um espaço que só me trouxe alegrias? Um espaço que só colocou em meu caminho pessoas especiais? Como abandonar depois de ouvir tantos pedidos sinceros de "não p´ra" apesar de n´o me achar com essa bola toda. Não dá né? Então aqui estou eu de volta ao meu mundinho que é mais de vocês do que meu. Então vamos remando e sem mordaças.
Vou começar voltando um pouco no tempo, falando do tempo anterior a minha vinda a Brasília. Um tempo em que era uma menina com meus 16 anos de idade, considerada com "cabeça" de 20 e tantos. Sempre tive problemas com minha idade. Nunca pude dizer minha idade que sempre havia divergência. Naquela época era para mais, agora é "graças a Deuspara menos.
Adorava tudo que se referia a arte e por isso resolvi fazer teatro. E olha que teatro naquela época, numa cidadezinha típica de interior, era considerado uma desculpa para tudo que você puder imaginar de errado. Sempre existia a indagação do que fazíamos na realidade trancados em uma sala por tardes inteiras. Não era admissível não ter um final de semana "normal", mas o que é ser normal?
Isso também aconteceu na época da ditadura, onde tínhamos que ensaiar duas peças: uma para o público e outra para os censores e mesmo assim eles sempre proibiam uma fala, uma interpretação. Sempre conseguiam enxergar malícia onde não existia. Até mesmo as peças infantis não escapavam çs suas famosas tesouras. E por conta disso o nosso grupo já começava com os questionamentos pelo nome Pano de Boca que nada mais é do que a cortina que se cerra ao final do espetáculo mas, não para nós. Pano de Boca para nós tinha o significado da mordaça que calava o povo brasileiro naquela época. Éramos muito unidos, viajávamos por ali mesmo levando um pouquinho da nossa cultura e das nossas idéias na esperança de abrir os olhos de alguns.
No nosso grupo todos faziam de tudo desde a encenação até pintar cenário, correr atrás de patrocinador, costurar e bolar os trajes das personagens, tocar os instrumentos para as músicas das peças, fazer pesquisa de campo andando de ônibus na hora do rush para perceber como o povo vive na pele e tudo mais que fosse preciso.
Tive ali um ensinamento de vida. Ali me foi aberta não só uma cortina mas, várias cortinas para a vida, para entender e ver o mundo com outros olhos, olhos de companheirismo, uniáo e principalmente humildade.
Obrigada aos companheiros: Ivani Guidini Bana, Selma Abrão David, Bartô - que me guiou nas primeiras poesias - Chiquita, Irineu Guidini, Lúcia Tymoniuk, Wagner Donadio de Souza e outros que infelizmente a memória resolveu náo ajudar a lembrar dos nomes.
In Memoriam: Irineu Guidini
Por Krisha às 01:52