quarta-feira, novembro 09, 2005
Passageira indesejada
Um imprevisto, um pedido de socorro e lá vou eu em disparada atrás de um táxi no meio da noite. Me lembro de um taxista conhecido que poderia me levar e me aguardar até que resolvesse o probleminha de última hora. Ligo, e ele prestativo estava no local marcado em poucos minutos todo nervoso.
- Aconteceram duas batidas no eixão. Terei que ir por cima pra não pegar congestionamento.
- Tudo bem ? respondo, mesmo sabendo que isso tomaria um pouco mais do meu tempo.
- Como vai a filhinha? - pergunto pra quebrar o silêncio.
- Está ótima! Já fez seis meses, está sentando sozinha e muito levada.
- Você vai ver ela levada quando começar a andar.
Tony o motorista, olha pelo retrovisor e solta um risinho desanimado.
- É... acho que essa promete.
Desviamos com sucesso do congestionamento. No meio do gramado do eixão um carro, que não consigo saber qual teria sido um dia está de rodas pra cima. Não sei como conseguem. Espero que ninguém tenha se machucado. Mais alguns minutos e Tony estaciona no local combinado.
- Tony me espere que não devo demorar.
- Sem problema ? ele responde
.
Resolvo tudo, pego minha filha e peço que faça o caminho contrário me levando pra casa. Estou pensando na vida quando noto algo se mexendo no teto do carro. Uma coisa escura se movimenta lentamente em minha direção. A escuridão da noite não me deixa ter certeza do que eu achava que era. De repente a voz de Tony começa a ficar distante. Olho para o lado e vejo Bárbara cantarolando uma músiquinha qualquer, que eu também não conseguia prestar atenção. Tento focalizar aquela coisa estranha que agora estava ali, bem a minha frente, quase que me encarando. Era o que eu temia: uma asquerosa, brilhosa, fedida e nojenta barata ali, quase em cima da minha cabeça e eu sem poder fazer nada!
Comecei a calcular as possíveis reações: se viro para o lado e anuncio a presença, Bárbara daria um grito agudo e começaria a querer saltar com o carro em movimento. O pânico só não seria maior se a dita cuja caísse ou se jogasse num gesto de vingança em minha cabeça. Já sei, tiro o tamanco e dou uma tamancada nela! Mas e se eu errar? Posso até vê-la se enfiando dentro das minhas sacolas ou pior, se jogando na minha cabeça, se agarrando aos meus cabelos com suas patas cheias de "pêlos". Seria trágico e poderia até causar um acidente.
Chego à conclusão que o melhor a fazer é ficar calada e rezar pra chegar logo ao meu destino. Sigo imóvel. Apenas meus olhos se movimentam seguindo aquele inseto asqueroso em sua exploração. Para onde quer que ela fosse meus olhos também iam.
Aviso Tony que ele não terá que fazer o retorno pra me deixar do outro lado da pista como de costume - louca pra sair voada daquele carro -, mas ele, muito gentil:
- Que isso, vou ter que fazer a volta mesmo! Não custa nada.
Como não? Mamãe, eu quero descer!
Assim que o carro estaciona, abro a porta rezando pra que aquela coisa marrom não caia no meu pescoço para uma despedida entusiasmada. Pago a conta pela janela mesmo e desapareço. Só me arrependo de não ter avisado Tony. Que outro se encarregue.
Por Krisha às 21:19