sexta-feira, abril 29, 2005
Sou do tempo...
Do tempo em que se lutava por ideais. Em que se acreditava no nosso país e se lutava por ele. Da ditadura militar, onde nada se podia falar ou pensar. Diretas Já! Anistia Ampla, Geral e Irrestrita! Dos caras pintadas, talvez a última juventude atuante do Brasil.
Sou do tempo em que encontrávamos os amigos em bares da moda só pra conversar e não pra encher a cara. Do tempo das matines aos domingos, aonde íamos só pra ver aquele menino bonito, já que o filme sempre era uma droga mesmo! Tempo que se sentava na pracinha nos domingos quentes só pra ver a vida passar. Que existiam casinhas brancas com varandas, onde se podia sonhar no começo da noite olhando as estrelas e fazendo pedidos as milhares que riscavam o céu. Do tempo que existiam estrelas no céu, árvores nas ruas, pássaros no céu.
Onde se trabalhava só pra comer e os luxos eram poucos. Notícias chegavam com o vento e não numa tela fria. Tempo que se escrevia cartas e se esperava ansiosamente pela resposta por semanas. Tempo que se andava em bandos, mas espalhando alegria e não terror. Do tempo da serenata. Bombom Sonho de Valsa, Do tempo em que banho de chuva só trazia bem-estar e não gripe. Em que se ouvia Bob Dylan, Janis Joplin, Led Zeppelin e Pink Floyd. Em que se achava o que fazer num estalo, se resolvia e pronto!
Sou do tempo em que criança comia feijão com arroz, salada, carne e legumes, nada de fast food e Macdonald's. Do tempo que laranja, ameixa, uva, goiaba, dava em pé e não em bandeijinhas. Ah! Pular o muro do vizinho pra roubá-las é que dava emoção. Leite vinha da vaca pro copo, não da caixa pro copo. Sou do tempo da Tubaina, Crush e Guaraná.
Sou do tempo em que se sonhava só com aquela boneca do nosso tamanho e que fechava os olhos quando dormia, azuis, muito azuis. Banho de rio em vez de piscina. Pique-pega, andar descalça, subir em árvores, polícia e ladrão, esconde-esconde, cabra cega, roda, amarelinha, boneca de pano, de papel, Suzi com quem se podia brincar de estilista, fazendo vestido sexy pra encantar o Bob, passar o anel, salada de frutas. Hum... quantos beijos roubados.
Das conversas no portão. Do tempo em que se paquerava por meses, pra depois ser pedida em namoro. Não, no meu tempo não se ficava. O bom era aquele lance do olhar, os sorrisos, em que você acha que o menino tímido nunca viria falar com você. Do tempo em que passear de mãos dadas com o seu amor pelas ruas era bom demais. Dos bailes nos clubes, onde sempre um conjunto tocava e a gente ficava ali, sonhando em dançar com a pessoa dos nossos sonhos. Bailes de carnaval e não Trio Elétrico.
Sou do tempo que não volta mais, do tempo das coisas simples, mas de tão simples que eram não existem mais.
Por Krisha às 18:02