Como de costume, acordei cedo mesmo sendo sábado. Nosso corpo se acostuma ao ritmo diário e num dia como o de hoje, onde poderia ficar de preguiça na cama, não consigo! Peguei uma xícara de café e me sentei próxima à janela e me coloquei a observar a vida lá fora.
Vejo uma jovem, que apesar do calor que já faz a essa hora da manhã, usava uma jaqueta jeans e caminhava com uma certa dificuldade. Na mão direita trazia uma lata de cerveja e presumi que esse fosse o motivo do seu pouco equilíbrio em cima da sandália de salto vermelha que usava. De repente solta um grito:
- Louro, tá todo mundo na delegacia e eu estou aqui! Consegui sair. Diz isso, solta uma gargalhada e continua - Foram desacatar a autoridade... deu nisso! E do mesmo modo que surgiu desapareceu do meu campo de visão.
No prédio em frente a indiscrição da proximidade com que os prédios são construídos hoje em dia, me permite ver uma outra mulher que embala seu filho, enquanto se dirige com freqüência a janela olhando em direção a rua com um ar de preocupação em seus olhos. Por quem será que ela aguardava preocupada?
Essa hora a vida matutina começa a tomar seu ritmo. Os sons que escuto são das portas dos estabelecimentos se abrindo. Garrafas de cerveja batendo umas nas outras, pois alguém organiza um engradado. O "moço do gás" descarregando os botijões e arrastando-os até o restaurante. O porteiro do meu prédio em sua animação habitual começa a assobiar a mesma "musiquinha" de sempre. O aroma que me chega é de pão fresquinho que acabou de sair do forno, misturado com o cheiro da manhã. Aos poucos as coisas vão ganhando aceleração.
Nesse instante, descubro que não sou a única a fazer observações da vida que começa a se desenrolar logo abaixo. Descubro que uma outra moradora também observa tudo aquilo e me observa. Está parada bem a minha frente me encarando como se estivesse com as mesmas interrogações que eu em sua cabeça, acrescida de "o que essa mulher tanto olha?". Ao primeiro ruído, ágil, gira a cabeça em direção ao som e se coloca a observar, em seguida volta a me encarar. Parece me dizer que o movimento noturno não lhe trazia mais novidades suficientes e por isso estava ali àquela hora da manhã. Talvez procurasse graça nela, e assim permaneceu e permanece até este exato momento.