Era um domingo frio e úmido de junho. Havia chovido muito no dia anterior e o dia amanheceu com uma neblina densa que não permitia que se enxergasse nada além da distância de dois metros. A escuridão começava a dar lugar a luz de um sol tímido e frio.

Assim que olhou pela janela e viu o dia lá fora, sentiu uma imensa vontade de voltar para cama e ficar nela, se não o dia todo pelo menos parte da manhã, mas sabia que não era possível. Já estava atrasado para as coisas que tinha que fazer e que ninguém faria por ele. Calçou um par de botas e um casaco pesado e saiu. O vento gelado queimava seu rosto e ele tentava escondê-lo por baixo da gola do casaco, mas parecia inútil. Ao longe ouviu o canto de um Uirapuru que só canta por quinze dias durante o ano todo sentiu-se privilegiado e seguiu contente a estradinha de chão batido em direção a porteira que dava acesso ao pasto. As vacas e bois o conheciam de longe e mesmo oculto por aquele casaco começaram a mugir assim que o viram. Teria que colocar o sal no cocho e levar Estrela até o curral. Estrela era a sua vaquinha predileta que acabara de parir um bezerro não menos bonito que ela. Stanislaw pegou o bezerro no laço e começou o caminho em direção ao curral e Estrela, uma mãe cuidadosa como ela só, os seguiu de perto. A grama estava molhada por demais e agradeceu por ter colocado as botas senão estaria com os pés encharcados.

Estrela numa das baias e o bezerro na outra. Enquanto puxava as tetas de Estrela que não se incomodava desde que saboreasse o sal no cocho e tivesse sua cria por perto, agendava mentalmente as coisas que ainda teria que fazer no decorrer de seu dia degustando uma caneca do leite ali mesmo no curral. Ainda tinha que levar as vacas para o outro pasto; arrumar a cerca que divisa com compadre Antônio, que um touro assanhado havia derrubado no final da tarde anterior; plantar cinco alqueires de arroz aproveitando as chuvas que caíram nos dias anteriores manualmente; dar uma olhadinha na cerca da horta para que a mulher parasse de falar que as galinhas estavam acabando com as alfaces; e se sobrasse tempo, sentar na varanda no final do dia para apreciar a vista na sua cadeira predileta.

Pegou o balde cheio de leite e caminhou em direção a casa de onde já saia fumaça da chaminé. Sinal que o fogão a lenha já estava acesso e o café já devia estar pronto. E naquele momento era o que mais precisava, um bom e farto café da manhã. Agradeceu ter se lembrado de rachar a lenha no dia anterior pois estava faminto. Eva devia estar esperando pelo leite e ainda bem que hoje Estrela não tinha dado um coice e derrubado tudo. Sorriu e apressou os passos em direção a casinha pelo mesmo caminho de chão batido. Assim começava o seu dia.

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Esse post foi em homenagem ao meu avô Stanislaw - in memorian- cuja lembrança me veio nitidamente assim que acordei e de quem senti uma necessidade infindável de falar. Fecho os olhos e posso vê-lo realizando diariamente essas e muitas outras coisas que quem sabe conte depois. Um beijo no coração de todos.

Osmar , um beijo especial no meu coração e um pedacinho do meu paraíso para onde quero te levar. Sei que algumas coisas seus olhos não poderam mais ver e nem eu te mostrar, por isso mostro do jeito que posso, escrevendo. Saudades.